A cidade e a memória  

Depois de passar seis rios e três cadeias de montanhas surge Zora, cidade que quem a viu uma vez nunca mais pode esquecer.Mas não pode ela deixar como outras cidades memoráveis uma imagem fora do comum nas recordações. Zora tem a propriedade de ficar na memória ponto por ponto, na sucessão das ruas, e das casas ao longo das ruas, e das portas e das janelas das casas, embora não apresentando nelas belezas ou raridades particulares. O seu segredo é o modo como a vista percorre figuras que se sucedem como numa partitura musical em que não se pode mudar ou deslocar nenhuma nota. O homem que sabe de cor como é Zora, nas noites em que não consegue dormir imagina que anda pelas ruas e recorda a ordem em que se sucedem o relógio de cobre, o toldo à riscas do barbeiro, o repucho dos nove esguichos, a torre de vidro do astrónomo, o quiosque do vendedor de melancias, a estátua do eremita e do leão, o banho turco, o café da esquina, a travessa que dá para o porto. Esta cidade que nunca se apaga da mente é como uma armação ou um retículado em cujas casas cada um pode dispor as coisas como lhe aprouver recordar: nomes de homens ilustres, virtudes, números, classificações vegetais e minerais, datas de batalhas, constelações, partes de um discurso. Entre todas as noções e todos os pontos do itinerário poderá estabelecer um nexo de afinidades ou de contrastes que sirva de mnemónica, de referência instantânea para a sua memória. E assim é de maneira tal que os homens mais sábios do mundo são os que conhecem Zora de cor. Mas foi inutilmente que parti em viagem para visitar a cidade: obrigada a permanecer imóvel e igual a si própria para melhor ser recordada, Zora estagnou, desfez-se e desapareceu. A Terra esqueceu-a.

Italo Calvino, As Cidades Invisíveis. Lisboa, Teorema, 1993, p. 19-20.

Programa da cadeira e bibliografia
Cidade Imaginária
 
Habitação  

"A habitação representa 80% da produção arquitectónica e constitui 95% da substância urbana", lembra Nasrine Seraji, um arquitecto nascido em Teerão, Director da Escola Nacional Superior de Arquitectura Paris-Malaquais. Numa época em que a arquitecura se mediatizou, com arquitectos promovidos ao estatuto de vedetas (Frank Gehry ou Rem Koolhaas, por exemplo) e edifícios convertidos em pólos de atracção turística (o Guggenheim de Bilbau ou a Casa da Música do Porto, por exemplo), o tema da habitação foi remetido para um lugar secundário. Está praticamente ausente da agenda política, ou, mais rigorosamente, não é encarado como objectivo relevante da política. Claro que figura nos planos directores municipais, mas como instrumento de pura ocupação do espaço vazio e expectante, e não como instrumento de organização e de gestão da cidade.
Em Paris, no Pavilhão do Arsenal (centro de documentação e de exposição de urbanismo e de arquitectura pertencente à Câmara Municipal), decorre uma exposição que pretende questionar o lugar da habitação na estratégia urbana. Intitula-se "Habitação, tema central das nossas cidades. Crónica europeia, 1900-2007". Através da apresentação de exemplos seleccionados ao longo de um século de produções de habitação colectiva, demonstra-se o papel crucial da habitação na construção das cidades e põe-se em evidencia a relação entre habitação e contexto social envolvente.
As transformações sociais das últimas décadas foram não apenas muito profundas como muito rápidas. As mudanças atingiram os grupos sociais e envolveram as relações e os papéis do homem e da mulher. Individualizaram novas categorias sociais, como a juventude. Trouxeram novos hábitos e valores para o quotidiano e alteraram a estrutura familiar. Temos de reflectir sobre estas mudanças para encontrar as novas respostas às velhas perguntas: quais são as finalidades da habitação hoje? Quais os seus modelos e tipologias? A que pessoas se destina? Que cidade quer promover? Que conhecimento e inovação aplica e origina?

 
Centros históricos  
Alexandra Gesta apresenta, na Cordoaria, os passos do trabalho que liderou em Guimarães e que conduziu à mais bem sucedida operação de reabilitação urbana efectuada em Portugal. Tudo começou em 1983. A Câmara desencadeara a elaboração do seu Plano Director Municipal. A área mais antiga suscitava preocupações, tendo em conta o estado dos edifícios e as condições da população residente. O responsável pelo Plano, Professor Nuno Portas, recusou a ideia de atribuir a uma equipa exterior a elaboração de um Plano de Pormenor do Centro Histórico. Propôs a criação de um gabinete municipal que se ocupasse do centro histórico segundo um modelo coordenado pela própria equipa do PDM. Surge assim o Gabinete do Centro Histórico de Guimarães, assessorado pelo Prof. Fernando Távora e constituido por três técnicos, entre os quais Alexandra Gesta. Nos dois anos seguintes, o Gabinete estuda a situação, identifica problemas e interlocutores, delineia estratégias. Em 1985, tirando partido da decisão governamental de constituir Gabinetes Técnicos Locais, forma um, ampliando a equipa num sentido pluridisciplinar. A partir de então, deita mãos à obra, segundo três eixos fundamentais: 1 - reabilitação dos espaços públicos; 2 - reabilitação dos edifícios municipais; 3 – apoio técnico e financeiro (na medida das disponibilidades) aos privados. Houve quem lhe chamasse – a essa obra – “evolução urbana”.
Opção realista e exigente de cidade esta. O município é responsável, em primeiro lugar, pelo espaço público e pelos seus próprios edifícios. Depois, trabalhar com os privados, oferecendo o apoio financeiro que há para oferecer, por pouco que seja, e o apoio técnico para as obras que pretendam realizar.
A Unesco aprovou a candidatura de Guimarães a Património da Humanidade em finais de 2001. Entretanto, a responsabilidade do Gabinete ampliou-se. Em 1983 abrangia um pequeno núcleo urbano, intra-muros, hoje abarca toda a cidade consolidada até 1980. De facto o centro histórico nunca foi isolado do resto da cidade. O nosso trabalho, diz Alexandra Gesta, é “sempre a procurar oportunidades para reanimar e juntar fragmentos urbanos”. E só agora, confessa, está a elaborar o Plano de Pormenor.
[Conferência “Frentes de Vazios Urbanos - Os novos caminhos da Cidade Consolidada”, organização Trienal de Arquitectura de Lisboa, 12 de Julho, moderada por João Rodeia; Bibliografia: “Política e cidadania: entrevista a Alexandra Gesta”, in Arquitectura e Vida, nº 70, Abril de 2006].
 
As Cidades de Eça (3)  
A lição de Tormes  

Imaginemos que à saída desta cerimónia, como tantas vezes sucede, um jornalista me estende o microfone interpelando:
"O Sr. Presidente proferiu mais uma lição sobre a floresta em Portugal. Pode resumi-la?"
Muitas vezes, não respondo. Mas talvez se justifique hoje proceder de outro modo. E eu responderia:
Na Cidade e as Serras , de Eça de Queirós, o Jacinto vem da cidade de Paris para o campo, Tormes. Aí percebe que a nossa riqueza está em Tormes.
Hoje, há quem julgue que podem ser ricos nas cidades e vilas, ao mesmo tempo que o campo é pobre e desordenado.

Jorge Sampaio, Intervenção no Congresso de Sociologia. FCG,8 de Setembro de 2005

 
As Cidades de Eça (2)  
Um monóculo perdido em Lisboa  

Um monóculo perdido em Lisboa é uma reflexão em busca da legibilidade de Lisboa na representação que Eça de Queirós faz da cidade em alguns de seus textos. Neste percurso por uma Lisboa construída com letras, signos e sons de outros tempos, foram necessários instrumentos orientadores que constituem textos diversos que circulam e misturam os signos da cidade. É a partir desses textos que se tenta realizar, utilizando as palavras de Walter Benjamin, uma "investigação constante" acerca das representações da cidade na ficção queirosiana, sendo que essa expressão tem o sentido mesmo particular que Benjamin lhe atribui, ou seja, uma orientação a partir de uma paisagem que desaparece a uma primeira visão, constituindo essa paisagem, no caso, a(s) Lisboa(s) de Eça de Queirós, um objecto perdido para sempre. É no contexto de uma procura por "um objeto perdido" que eu me permito participar do perder-se urbano das cidades de letras .

Mónica Simas

Um monóculo...
 
Vazios urbanos  
"Uma tarefa difícil na realidade portuguesa, como ficou patente na bela e difícil exposição de Manuel Graça Dias. Apresentando um mosaico de imagens da nossa realidade urbana e suburbana, evidenciou a desqualificação profunda dos seus centros antigos, envelhecidos e vagamente funcionais, e as periferias degradadas, territórios de dureza e conflito. Aproveitando o tema da trienal, Graça Dias abordou algo mais do que o “vazio” para falar de um processo de esvaziamento das cidades." Trienal de Arquitectura
Blogue da Trienal
 
A rua é nossa  
Exposição "La rue est à nous" promovida pelo Institut pour la Ville en Mouvement da École Nationale d'Architecture de Paris. Primeira etapa de uma itinerância internacioal, a exposição explora as cidades dos cinco continentes através de um espectáculo audiovisual, testemunhos, ilustrações e interrogações, projectos de arquitectura e urbanismo, e mais de uma centena de fotografias de grandes agencias noticiosas internacionais. Paralelamente, um progrma de acontecimentos artísticos e científicos faz-nos descobrir as ruas da moda, da literatura, da arte, do cinema, das redes ou da realidade virtual. Diversificando os olhares e os pontos de vista, mostram a que ponto a rua é hoje o espaço da criação, da modernidade e da inovação. La rue est à nous
 
 
As cidades de Eça (1)  
Só por ela, só por ela, pode o homem soberbamente afirmar a sua alma!  

"Por uma conclusão bem natural, a ideia de Civilização, para Jacinto, não se separava da imagem da Cidade, duma enorme Cidade, com todos os seus vastos órgãos funcionando poderosamente. nem este meu supercivilizado amigo compreendia que longe de Armazéns servidos por três mil caixeiros; e de Mercados onde se despejam os vergéis e lezírias de trinta províncias; e de Bancos em que retine o ouro universal; e de Fábricas fumegando com ânsia, inventando com ânsia; e de Bibliotecas abarrotadas, a estalar, com a papelada dos séculos; e de fundas milhas de ruas, cortadas, por baixo e por cima, de fios de telégrafos, de fios de telefones, de canos e de fezes; e da fila atroante dos ónibus, tramas, carroças, velocípedes, calhambeques, parelhas de luxo; e de dois milhões duma vaga humanidade, fervilhando, a ofegar, através da Polícia, na busca dura do pão ou sob a ilusão do gozo - o homem do século XIX pudesse saborear, plenamente, a delícia de viver!
Quando Jacinto, no seu quarto do 222, com as varandas abertas sobre os lilases, me desenrolava estas imagens, todo ele crescia, iluminado. Que criação augusta, a da Cidade! Só por ela, Zé Fernandes, só por ela, pode o homem soberbamente afirmar a sua alma!...

A Cidade e as Serras , Porto, Livraria Chardron, 1901

A Cidade e as Serras (versão digital )
Cities. Architecture and Society  
10ª Bienal de Arquitectura de Veneza. Comissário Richard Burdett. Tema: a construção da cidade numa época de transformação urbana global. Na era global, as cidades crescem e as grandes aglomerações crescem mais ainda. Os desafios cruciais vêm não só do lado não só da tecnologia como do lado da coesão social. Há dualismos que persistem ou se agravam. Há equilíbrios ecológicos ameaçados ou destruídos. A Bienal quis conhecer as respostas dos arquitectos e urbanistas (Josep Acebillo, David Chipperfild, Denise Scott Brown, Paul Robbrecht, Massimiliano Fuskas, Jacques Herzog, Rem Koohlhaas, Leon Krier, Amish Kapoor, Zaha Hadid, Norma Foster) ouvir as reflexões de ensaistas (Saskia Sassen, Richard Sennet, Joel Kothin, Stefan Hertmans, Robert Bruegmann, Iñak Ábalos). Fez os perfis de algumas cidades: S. Paulo, Caracas. Los Angeles, New York, Bogotá, México, Cairo, Joanesburgo, Istambul, Londres, Mumbai, Barcelona, Berlim, Tóquio, Xangai. 50 países levaram até Veneza as suas propostas. Portugal levou um "Liboscópio" da autoria de Amancio (Pancho) Guedes e Ricardo Jacinto e a exposição "Habitar Portugal", organizada pela Ordem dos Arquitectos, documentando 18 obras, realizadas entre 2003 e 2005. La Biennale
As megapolis que devoram o homem
Metropolização e segregação urbana em cidades europeias
Tipologia urbana da mundialização
Peter Hall: Megacities, worldcities, globalcities
Saskia Sassen: Urban economy and fading distance
Fotografia urbana
Para onde vamos?
Pancho e Ricardo
A cidade da Utopia  

Os utopianos atribuem a Utopos o plano geral das suas cidades. O grande legislador não teve tempo de acabar as construções e os projectos de urbanismo que concebera; seriam para tal necessárias umas poucas de gerações. Por isso legou à posteridade o encargo de prosseguir e aperfeiçoar a sua obra. Lê-se nos anais utopianos, religiosamente conservados desde a conquista da ilha, e que abrangem a história de mil setecentos e sessenta anos, que, a princípio, as casas muito baixas não passavam de cabanas ou choupanas de madeira com paredes de lama e tectos de colmo em forma de pirâmide. As casas são hoje elegantes edifícios de três andares com as paredes exteriores de pedra ou tijolo e as interiores de gesso. Os cimos das casas são planos e cobertos de uma substância incombustível muito acessível no preço e que preserva dos efeitos do tempo. A protecção contra o vento é assegurada por janelas envidraçadas, sendo de notar que se faz na ilha grande consumo de vidro. Algumas vezes substitui-se-lhe um tecido extremamente fino, coberto de âmbar ou azeite, que oferece tambem a vantagem de proteger os moradores contra o vento e deixa penetrar a luz do sol.

Tomás Morus, A Utopia. Lisboa, Guimarães, 1978, p. 73.

 
Nuno Portas

Entrevistas, artigos de jornal ou revista, conferências, intervenções em seminários e colóquios - uma imensa produção escrita do arquitecto-urbanista Nuno Portas, de praticamente meio século, está a ser reunida e publicada em livros. Textos provocadores, notas oportunas e que muitas vezes constituiram termos de referência para o pensamento e a acção em espaços do urbano, estão agora organizadamente disponíveis para leitura. A Faculdade de Arquitectura do Porto, onde Nuno Portas se jubilou recentemente como Professor Catedrático, editou em 2005 dois volumes, com cerca de 500 páginas cada, sob o título de Arquitectura(s). Os subtítulos indicam o critério de selecção dos materiais: História e Crítica, Ensino e Profissão, um, Teoria e Desenho, Investigação e Projecto, outro. O Departamento Autónomo de Arquitectura da Universidade do Minho, por seu turno, editou uma outra recolha de escritos de Nuno Portas, Os Tempos das Formas, em dois volumes: A Cidade Feita e Refeita (publicado em 2005) e A Cidade Imperfeita (que suponho ainda não ter sido publicado).

A União Internacional de Arquitectos atribuiu a Nuno Portas, em 2005, o Prémio Sir Patrick Abercrombie. A escolha fundamentou-se no reconhecimento da "importância da sua contribuição para o planeamento urbanístico em momentos-chave da história do seu país, em que a sua preocupação com o bem-estar social desempenhou um papel preponderante. O grande alcance das suas competências educacionais contribuiu para a disseminação da sua abordagem inovadora". Na oportunidade, a Ordem dos Arquitectos editou uma obra contendo uma menção de alguns dos seus mais importantes trabalhos urbanísticos, desde o projecto de Urbanização do Restelo, de 1973, ao Polis de Aveiro, de 2003: Ana Vaz Milheiro e João Afonso (coord.), Nuno Portas, Prémio Sir Patrick Abercrombie, Prize UIA, 2005.

A este prémio prestigiante, somou-se, ainda em 2005, um outro gesto distintivo, a atribuição pelo Politécnico de Milão a Nuno Portas da "Laurea ad honorem in Pianificazione territoriale urbanistica e ambientale". A cerimónia que decorreu a 6 de Maio, e que incluiu uma lição proferida pelo laureado (“1950-2000: un itinerario tra architettura e urbanistica, tra Portogallo e Italia), pode ser vista e ouvida no url indicado ao lado.

Nota biográfica
Decidir numa época de incertezas
Entrevista em 2000
Do vazio ao cheio
Cerimónia de Lauda ad Honorem em Milão
Rafael Bohigas. Recensão à obra Contra la incontinência urbana  

Siguiendo la línea de revisión de la herencia del urbanismo del movimiento moderno, reivindica algunos valores claves de la ciudad histórica, y entre ellos destaca tres elementos fundamentales en la definición formal de las ciudades. En primer lugar, la confluencia, flexibilidad y superposición de funciones, incluso la sublimación de los conflictos. En segundo lugar, la compacidad espacial y representativa. Y, finalmente, la legibilidad del espacio público. [...]

Manuel Guardià, professor na Universidade Politécnica da Catalunha

Recensão
Barcelona anos 80/90: materiais para discussão  
Um balanço geral  
Una de las ideas centrales del proceso de transformación de la Barcelona de Porcioles a la Barcelona de nuestros días hace referencia a la sustitución de la vieja idea del expansionismo y de desarrollismo por las nuevas necesidades de la reconstrucción: construir en lo construido, mejorar lo existente, transformar, modificar, rehabilitar, resignificar, subrayar o crear identidades son los objetivos más claros y más inmediatos de la actual política urbanística. Se trata de un urbanismo estratégico y reconstructivo, apoyado prioritariamente en la formulación del espacio público. Urbanismo reconstrutivo
Definição do urbano  
Um texto de Horacio Capel (1975)  
Horacio Capel é Professor Catedrático de Geografia Humana da Universidade de Barcelona. Nasceu em 1941. Foi director da revista Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana, editada por la Universidad de Barcelona (1976-1994, 100 números publicados) e secreáario de la Revista de Geografía (1967-1992). Realizou investigações sobre geografía urbana (sistemas urbanos, morfología urbana), teoria, história e sociologia da ciência (historia da geografia e da geología, comunidades científicas e grupos profissionales). Na actualidad trabalha sobre inovação tecnológica e desenvolvimento urbano na cidade espanhola contemporânea. Definição do urbano
A dispersão (um texto de Álvaro Domingues, 2006)  

"O difuso não é rural nem urbano, no sentido comum das palavras e dos outros sentidos que elas carregam. É um terceiro estado de formação muito recente, onde o tempo ainda não permitiu estabilizar e possibilitar que algum nome mais próprio se lhe chame."

 

Ao lado uma fotografia de Leiria, ilustrando urbanização dispersa das margens de uma cidade. Legenda inserida na obra Cidade e Democracia, 2006, coordenada por Álvaro Domingues: "Colonizando uma malha viária mal hierarquizada, a habitação e as actividades localizam-se de forma fragmentada".

Dispersão
Peter Hall  
Peter Hall is Professor of Planning at the Bartlett School of Architecture and Planning, University College London. From 1991-94 he was Special Adviser on Strategic Planning to the Secretary of State for the Environment, with special reference to issues of London and South East regional planning including the East Thames Corridor and the Channel Tunnel Rail Link. He was member of the Deputy Prime Minister's Urban Task Force (1998-1999).
He has received the Founder's Medal of the Royal Geographical Society for distinction in research, and is an honorary member of the Royal Town Planning Institute. He is a Fellow of the British Academy. He was a founder member of the Regional Studies Association and first editor of its journal Regional Studies. He was Chairman of the Town and Country Planning Association (1995-1999).
Entrevista com Peter Hall realizada por Thierry Pacquot em 2000
Pancho Guedes  

"Nascido em 1925 em Lisboa, passou a sua infância em várias zonas do interior de Moçambique, onde o seu pai era médico ao serviço do Estado. Tendo estudado arquitectura na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, voltou para Lourenço Marques em 1949. A sua vida profissional iniciou-se como desenhador no gabinete de arquitectura da Câmara Municipal da cidade. O seu primeiro trabalho constitui hoje um marco identitário central da cidade: foi encarregado de re-desenhar a Fortaleza da cidade a partir das ruínas dos alicerces (...).

Nas décadas que se seguiram, produziu uma notável e diversificada obra arquitectónica em Moçambique, África do Sul e Suazilândia. O Grove Dictionary of Art faz a seguinte apreciação conservadora "Erigiu aproximadamente 500 edifícios, incluindo igrejas, escolas, casas, apartamentos, restaurantes e edifícios de escritórios, um pouco por toda a parte no país. Os melhores destes encontram-se entre as obras de maior destaque da arquitectura do pós-Guerra na África Austral."

Com o passar dos anos foi elaborando uma linguagem arquitectónica muito inovadora que se engaja explicitamente num diálogo com o contexto regional: nos materiais usados, na adaptação dos edifícios às condiçôes de vida e de clima locais, mas sobretudo nos elementos mais formais (recorrendo frequentemente a formas geométricas e padrões de cores derivados das tradições decorativas da África Austral). Na apreciação de uma historiadora de arte sulafricana, "Quando o movimento modernista assumiu o controle na África Austral, alguns arquitectos, em especial Norman Eaton, Barrie Biermann ou Amâncio d'Alpoim 'Pancho' Guedes, concentraram-se na exploração das possibilidades de uma adaptação regionalista às condições específicas locais do Estilo Internacional emergente. Uma parte central desta procura foi um forte engajamento com formas artísticas e artesanais e uma curiosidade sobre a cultural tradicional africana. [...] Guedes, em especial, epitomisa essa explícita integração da arte com a arquitectura (Ostler 1986; Beinart 1961). Ele não só aplica a arte sob vários meios à sua arquitectura como, mais significativamente, trata o próprio edifício como uma escultura. No início, foi atraído pela aproximação 'anti-racional' do Movimento Dada e Surrealista, do Expressionismo e ainda da obra de António Gaudí, com as suas formas biomórficas e a sua aparência 'mole'. Mais tarde, porém, combina estas com um interesse na tradição racional, límpida, geométrica e simétrica do Classicismo. A sua linguagem arquitectónica, frequentemente sugestiva, pictórica e táctil, liga a herança portuguesa local, inspirada no Barroco, à austeridade e racionalidade do Estilo Internacional (Ostler 1986; Marshall 1999).

A sua obra como pintor, escultor e promotor de jovens artistas (entre estes o hoje famoso Malangatana) recebeu também muita atenção crítica, tanto na África Austral onde o seu papel nos meios arquitectónicos é destacado, como mais recentemente em Portugal, onde a sua obra está a merecer renovada atenção (vide as exposições retrospectivas da sua obra em Lisboa, 2006 e 2007, em preparação no Centro Cultural de Belém).

Pancho Guedes foi sempre um pensador e artista profundamente polémico e prolixo, que nunca se associou com o regime ditatorial e colonialista português.

Contudo, no período imediato da pós-Independêcia, as suas posições resolutamente liberais e opostas ao autoritarismo soviético, levaram-no a ter de sair do país e a aceitar o posto de Professor e Chefe do Departamento de Arquitectura na Universidade do Witwatersrand, de onde se reformou no início da década de 1990 para ir viver para Sintra, perto de Lisboa, onde tem hoje um papel activo como arquitecto e professor de arquitectura".

João de Pina Cabral, in A Catedral das Palhotas: Religião e Política no Moçambique Tardo-colonial, 2005


Pancho Guedes is the father, the inventor of all the art works. He cannot tell the difference between painting, sculpture and architecture. He does all three with intermittent outbursts of success and notoriousness. He is obsessive and difficult. He sometimes works until he collapses. He believes it is possible to be a Renaissance man in all this decadence and he has literary pretensions. At home he is called Dada by his children and all their friends, which pleases him no end.

Amâncio Guedes is the spirit of Pancho Guedes, first revealed internationally in the pages of the Architectural Review. It was discovered by Banham who descended with him, to the bar basement at Queen Anne's Gate in 1960. It is the name that persists in frequent adverts and assessments.

A. d'Alpoim Guedes is the son of Pancho Guedes, the executor, the "responsavel por toda a obra excepto o betao armada"—in fact the Real Guedes.

It is he who lived and had a studio for 25 years at Rua de Nevala, 61 & 61A, in Lourenço Marques, and then lived in exile in Johannesburg and was Professor and Head of the Department of Architecture at the University of the Witwatersrand. He also goes by the name of A. d'A. M. Guedes— Adam Guedes — which is how he signs his bureaucratic correspondence and his cheques. All quite in order, A.D.A.M. G. being the initials of his long-winded birth certificated's name.

It is he who, together with his wife, edit the chaotic and bombastic writings of both Amâncio and Pancho Guedes. It is Adam and Dorothy that have managed to establish some sequence and order in the writings, as well as correcting the abominable spelling, of the other two in the foreign and back-to-front language they persist in using.

A. d'Alpoim Guedes is also the keeper of all the surviving drawings, paintings sculptures, photographs, toys, embroideries, models slides and words, which become more and more real every day. He is also the historian and the archivist, the appointed author ot the definitive catalogue. 


Pancho Guedes integrou (com Ricardo Jacinto) a representação portuguesa na 10ª Exposição Internacional de Arquitectura - Bienal de Veneza, de 2006.

Lisboscópio, Edição Instituto das Artes/Ministério da Cultura, 2006. Publicação com textos de Hugo Brito, Ricardo Carvalho, Jorge Figueira, João Gomes da Silva, Nuno Grande, Cedric Green, Joaquim Moreno, Nuno Portas, Nuno Ribeiro, Miguel Santiago, Defim Sardo e Claudia Taborda (Comissária da Representação Portuguesa)


Pancho Guedes + de... - Meio Século de Metamorfoses Espaciais

Miguel João Mendes do Amaral Santiago, Doutoramento em: Arquitectura; Orientador: Doutor António Jacinto Rodrigues; Provas concluídas em:16 de Dezembro de 2005

Resumo

Esta tese analisa a obra do arquitecto Pancho Guedes. Controversa e irreverente, valoriza o simbólico, a metamorfose, a incerteza e o sonho. Possui como estratégia retomar a história em múltiplas dimensões, com a arquitectura no papel de arte mais ancestral do mundo, a determinar a construção dos territórios, dos lugares, das memórias. São analisadas quatro obras paradigmáticas que representam as quatro fases distintas da obra do arquitecto. A primeira, o edifício "Leão que Ri", concluído em 1958, é um puro exercício de experimentação e representa o expoente máximo do plano enquanto superfície. Na segunda obra - a casa Mulher Habitável (1963) - a figura do plano dá lugar ao espaço e à tridimensionalidade, à plasticidade dos materiais e à relação com a topografia do lugar. A terceira fase é definida pelas intervenções que o arquitecto desenvolveu em 1975 para Bienal de Veneza; esculturas que definem um conceito de intervenção urbana, simbolizando, simultaneamente, a fusão entre artista, arquitecto e artesão. Finalmente, um dos projectos recentes do arquitecto Pancho Guedes; o edifício sede da Fundação Malangatana(1999-2003), baseia-se numa constante desconstrução da geometria euclidiana, anteriormente uma ferramenta fundamental no desenvolvimento de inúmeras obras. Este projecto incorpora, na sua concepção, as outras três fases, com a libertação ou desconstrução geométrica a promover, de forma erudita, a complexidade espacial.

Estamos, assim, perante uma obra que se revela como um exercício de rigor, onde o objecto arquitectónico surge sempre da tensão entre funcionalismo e organicismo, entre racional e irracional, entre o arquitecto e o mundo.

Texto de J. Pina Cabral

Texto de Isabel M. Rodrigues

Texto de Miguel Santiago

Auretrato
 
 
Bloco de apartamentos "Leão que ri", Lourenço Marques, 1958
 
 
 
Bloco de 12 Casas Co-Op, Lourenço Marques
Site sobre Pancho Guedes
30 m. with Pancho
Igreja Sagrada Família, Machava, 1964
 
Padaria Saipal, 1952
 

 

 

Casa Leite Martins, 1961
Casa Vermelha
 
 
Casal dos Olhos, Sintra, 1990
 
A bolha imobiliária rebentou?  

O Público assinala hoje a contracção do mercado imobiliário em Portugal. É um fenómeno que já foi sendo assinalado na imprensa europeia e americana durante o ano de 2006. A "Festa imobilária acabou" escrevia Eric Boucher no Le Monde de 8 de Outubro. O ciclo que agorta parece ter chegado ao fim deixou uma pesada herança, de especulação, de deregulação urbana, de corrupção e de golpes na sustentabilidade do território.

Reuni aqui um dossier de imprensa sobre o tema.

Sinais de estagnação
A bolha imobiliária
A festa acabou
A bolha rebentou
Novo ciclo
  Entre a hipoteca e a parede
Pequenas cidades americanas  

Podem estátuas a abelhas ou festivais de contar histórias travar o declínio das cidades pequenas do interior?

A maioria das cidades pequenas, ou desaparece ou perde a identidade transformando-se num dormitório. Mas algumas resistem a essa perda de dignidade e com imaginação conseguem manter-se vivas. Hidalgo, no Texas decidiu, com enorme sucesso, dar relevo às suas famosas abelhas assassinas erguendo-lhes uma estátua de 6 metros. Igualmente Colquitt na Georgia, uma das mais pobres regiões da América, renasceu através de um festival de dramatização de contos locais chamado "Swamp Gravy". A cidade de Buffalo perdeu a sua riqueza e mais de metade da sua população desde os anos 50 devido à queda da produção industrial que a sustentava. Actualmente estão a ser recuperadas antigas fábricas e instalações industriais com finalidades modernas, tais como produção de etanol e biotecnologias.

Reviving small towns
Curso de Verão da FCSH da Universidade Nova de Lisboa: "Imigração e Cidades Criativas"  
À semelhança das práticas há muito habituais nas grandes universidades da Europa e do mundo, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas vai realizar, nos próximos meses de Julho e Setembro de 2007, e a partir dos seus vários Departamentos, a segunda edição da sua Escola de Verão, a qual consiste num conjunto de cursos intensivos e de curta duração oferecidos por todas as suas áreas.
Neste módulo formativo "Imigração e Cidades Criativas" pretende-se reflectir sobre um dos impactos mais significativos dos processos de globalização nas cidades: a emergência de uma economia da diversidade que simultaneamente se alimenta da sociedade cosmopolita, resultante das novas realidades migratórias, e a reinventa.
No curso "Imigração e Cidades Criativas" olharemos para os efeitos económicos, culturais e políticos que o crescente aumento dos fluxos migratórios tem tido na organização das cidades, prestando particular atenção à forma como os imigrantes e os seus descendentes, ao constituírem-se como actores urbanos da diversidade, contribuem para a emergência de novas configurações nas esferas cultural, mas também económica e política. Neste sentido, serão abordados conceitos como o de diversidade; economia simbólica; economia etnocultural; economia criativa; turismo étnico; produção cultural; cosmopolitismo; e lusofonia.
 
Espaço público  

Temas

O espaço público é o espaço de uso colectivo. Como escreve Jordi Borja, é o espaço de que progressivamente nos apropriamos, onde passeamos e onde nos encontramos, que organiza cada uma das zonas da cidade. O tema pode ser abordado horizontalmente: - o espaço público como espaço de representação simbólica; - o espaço público como espaço de representação política; - espaço público como espaço de representação física. Ou desdobrado numa série de problemas com que nos defrontamos nas cidades de hoje. Revalorização do espaço público em resposta aos problemas da cidade actual: - prioridade à habitação; - segregação social; - fragmentação funcional. Novas tipologias de espaço público: - áreas comerciais; - estações ;- campus universitários. O espaço público é por definição multifuncional. Tem de garantir a igualdade de acesso aos diferentes grupos sociais, e, nesse sentido, resistir às tentativas de apropriação privada. A favor do espaço público
A crise do espaço público
Espaço público e cidadania
Espaço público: significados
A forma do espaço público
 
Citação  

"O espaço público é a essencia da sociedade ocidental. O espaço público é a nossa ideia da liberdade: o lado político da nossa profissão [arquitecto]. Olhando para as cidades modernas, o seu espaço público representa ideais clássicos: humanismo, liberdade e privacidade. Na rua somos iguais e, portanto, livres. Em privado, somos secretos. Isto só funciona em certos tipos de cidade: cada um deve sentir o espaço público como próprio, seguro, apreensível, desfrutável. Não é o caso dos Estados Unidos. Aí, poucas cidades têm uma noção de espaço público. Nós, arquitectos, temos a responsabilidade de pensar esse espaço, que é o da liberdade, o que melhora a vida das pessoas na cidade. As casas melhoram a vida, relativamente, a cidade fundamentalmente. A Holanda viveu uma bolha económica há dez anos. Tudo se podia fazer. Os clientes não eram críticos e muitos arquitectos fizeram loucuras. Isso afectou a reputação da arquitectura e a integração da cidade. A cidade desintegrada é um desastre: oportunidade ideal para os guetos. Ontem estive num subúrbio de Madrid: só havia casas para ricos. Pareceu-me um desastre. Claro que também há subúrbios pobres. mas não sei dizer qual é pior. Nem mais perigoso.

[Para atacar o problema da habitação] é preciso voltar ao espaço público. Uma boa cidade é melhor que uma boa casa, por uma razão simples: uma cidade pode fazer coisas maiores e melhores. As pessoas têm mais poder do que julgam. O público pode mudar um bairro. Na Holanda, as pessoas estão a voltar às cidades. Fartaram-se da piscina, da garagem e do cão, e preferem a vida de bairro, ir à escola a pé. A cidade continua ser o melhor lugar para viver. Os subúrbios acabarão por nos matar".

Felix Claus, "Una buena ciudad es mejor que una buena casa".

Entrevista publicada em El Pais - Babelia, 26 -08-2006.

 
Tópicos para um novo urbanismo: um texto orientador da discussão do Forum Barcelona 2004  
IDEAS EMERGENTES

Entornos urbanos y territorio

· El capital creativo como valor activo de una ciudad
· Ciudad, ente educador en derechos humanos
· Ciudades culturales sostenibles
· Espacio disociado
· Arquitectura del pretexto
· Hiperlugar
· Arquitectura del contexto
· Densidad urbana: la ciudad dual
· Reciclaje del suelo
· Transición hacia un mundo urbano
· Dignificación del infrahabitaje
· Sostenibilidad urbana


El capital creativo como valor activo de una ciudad

Robert Palmer, reconocido asesor internacional de proyectos culturales, propone un replanteamiento conceptual y administrativo de la cultura como respuesta a las necesidades de una sociedad globalizada, en la cual la “comodificación” cultural es un hecho. Palmer encuentra soluciones con valor sostenible a partir de la ampliación del concepto de cultura, un concepto que engloba aspectos más sociales. En este contexto, Palmer ha creado la idea del Capital Creativo como la necesidad de acumular y potenciar una creatividad capaz de solucionar las problemáticas actuales y de futuro.
Propuesta
Como modelo, Robert Palmer propone la creación de clusters culturales formados por organizaciones que fomenten el desarrollo creativo y centros que trabajen en la producción cultural, una especie de red de entidades internacionales con funciones diferentes, pero centradas en fomentar, crear y desarrollar capital creativo.

Ciudad, ente educador en derechos humanos
Pese a que cada vez más la población se concentra en las ciudades, las políticas nacionales e internacionales quedan lejos de los ciudadanos, y son las políticas y acciones a nivel local las que los acercan a valores como los de los derechos humanos. Si entendemos la ciudad como un ente educador en derechos, civismo, igualdad, etc., es posible un cambio de perspectiva en los problemas de exclusión, discriminación y conflictos violentos.
Buenas prácticas
En Barcelona se lleva a término la campaña “Barcelona Civismo”, como parte del proyecto de la Red de “Ciudades Educadoras”, que ya reúne a unos 200 miembros.

Ciudades culturales sostenibles

Los modelos de construcción de muchas ciudades se han basado en aspectos estrictamente económicos y arquitectónicos que no han tenido suficientemente en cuenta su dimensión cultural. Esto ha generado espacios con gran densidad de población, problemas de conflictos y exclusión social, etc. La cultura tiene que ser una herramienta presente en las políticas de urbanismo, para crear ciudades sostenibles.
Buenas prácticas
La Asociación Internacional de Ciudades Educadoras (AICE) comparte las buenas prácticas y las experiencias con 280 ciudades en 33 países de Europa y América Latina. La Liga Europea de Institutos de Arte (European League of Institutes of the Arts, ELIA): organización de ámbito europeo representativa del sector educativo superior de todas las disciplinas artísticas. Kamasawa, Japón: la ciudad ha transformado almacenes industriales en centros de arte y cultura gestionados por los mismos ciudadanos.

Espacio disociado
Hay una crisis del espacio público: por un lado, los espacios emblemáticos sólo suponen el 10% de la ciudad, y por otro, la convivencia en los espacios públicos está cambiando; el espacio público se privatiza y se impersonaliza. También se produce una disociación entre la continuidad de la arquitectura, y el edificio acaba siendo una “máquina soltera” que contribuye a la impersonalización de los espacios urbanos.
Buenas prácticas
Las intervenciones del arquitecto Richard Rogers en casos como Cardiff (Asamblea Nacional de Gales) o Burdeos (Palacio de Justicia) son un buen ejemplo de edificios que se integran en su entorno, generando espacios públicos en su seno.

Arquitectura del pretexto
Muchas operaciones urbanísticas se articulan alrededor de una idea o de un acontecimiento especial, como unos juegos olímpicos, que sirven de “pretexto” o motivación para un conjunto de actuaciones. Esta estrategia de revitalización y desarrollo puede ser muy positiva, pero también puede obedecer a una dificultad para expresar expectativas a largo plazo y caer en una contradicción entre la temporalidad a largo plazo de la ciudad y el “presentismo” que dominan muchos de estos proyectos.
Buenas prácticas
Dos proyectos recogen la voluntad de aprovechar los efectos positivos de la organización de acontecimientos. El Proyecto Caja Mágica, en Madrid, es un equipamiento deportivo multifuncional de Dominique Perrault que recupera una zona degradada y sin servicios. También el Fórum de Barcelona y el barrio de Diagonal Mar han servido para urbanizar una zona, integrar un conjunto de infraestructuras en el tejido urbano y dotar a la ciudad de una serie de equipamientos.

Hiperlugar
La ciudad no es un ente estático, sino un conjunto de procesos y relaciones entre personas y elementos físicos, multifuncional, con espacios intermodales. Las personas vivimos en un radio que va de los 6 a los 100 km, a escala de grandes regiones urbanas, con pueblos y ciudades polinucleares, continuas, heterogéneas. Vivimos más bien en planos diferentes (trabajo, barrio, familia, ocio...) y pasamos de uno al otro a través de las telecomunicaciones o la movilidad física. Por lo tanto, estamos hablando de un espacio multidimensional, en el que sus funcionalidades tienen que ser múltiples, por lo tanto, superando el funcionalismo estrecho, y en los que toma importancia el “cronourbanismo”.
Buenas prácticas
La ciudad se tiene que pensar en términos de movilidad sostenible, se debe evitar que se base exclusivamente en el transporte privado y se tiene que conseguir que el transporte público sea un “nodo” y no una “estación”. Edmonton y Kuritiba son ciudades que, según los expertos, han sabido diseñar modelos de movilidad eficientes.

Arquitectura del contexto
La arquitectura y el urbanismo tienen que tener una intencionalidad de inserción en el entorno en el que se ubican, en términos de ocupación del espacio público, de sostenibilidad medioambiental, de respeto a la cultura de cada ciudad, etc., y deben estar ligadas y contextualizadas respecto su entorno y sus necesidades.
Buenas prácticas
Los edificios de oficinas de Richard Rogers en Canary Wharf (Londres) intentan generar un espacio colectivo dentro del propio edificio, teniendo en cuenta las características climáticas. Esto también se puede observar en el proyecto de la ópera de San Petersburgo, de Dominique Perrault. Raj Rewal, en su obra, es respetuoso con la tradición cultural hindú y con los condicionamientos climáticos del lugar en el que se ubican sus obras.

Densidad urbana: la ciudad dual
La ciudad actual se mueve alrededor de dos modelos, según el grado de densidad; la ciudad compacta y la ciudad extensa. Tender hacia un u otro modelo afecta a la calidad de vida de la ciudad y a sus espacios colectivos, que en la ciudad difusa se privatizan de facto en el uso o se descuidan, convirtiéndose en zonas de paso para el transporte privado. La ciudad difusa es menos eficiente que la ciudad compacta en el consumo energético, en el transporte y en el uso del agua.
Problemática
En los Estados Unidos, un 50% de la población ya vive en áreas suburbanas, y es un proceso que también afecta al modelo europeo de ciudad.

Reciclaje del suelo

En las ciudades compactas que han agotado su suelo, para evitar la expansión indefinida de la ciudad cuando acaba con su suelo, es preciso comenzar un proceso de reciclaje del suelo, dándole nuevos usos, a través de la reforma de los edificios existentes y no tanto a través de la construcción nueva.
Propuestas
El “reciclaje del suelo” es una buena estrategia para las ciudades que han agotado el suelo urbanizable. En este sentido, se pueden interpretar intervenciones como las del 22@ de Barcelona.

Transición hacia un mundo urbano
De aquí a 10 años, más de la mitad de la población vivirá en ciudades, y se prevé que el porcentaje llegue al 80% en el año 2030. El motivo de esta migración hacia los núcleos urbanos es la búsqueda de unas expectativas de futuro mejores. Ahora bien, muchas de las personas que se trasladan a las ciudades ven frustradas estas expectativas y, por el contrario, se encuentran con problemas como la pobreza, la exclusión social, la dificultad de acceso a una vivienda digna, la carencia de los servicios mínimos o la inseguridad laboral.
Propuestas
La descentralización de poderes o apoderamiento local es la mejor vía para garantizar el acceso del ciudadano a los servicios que necesita. La interrelación de ciudades en redes como Ciudades y Gobiernos Locales Unidos (UCLG) puede ayudarles a resolver problemas comunes. Asimismo, es preciso ampliar la relación de las ciudades con los organismos internacionales.

Dignificación del infrahabitaje
Uno de los principales objetivos de Desarrollo del Milenio para el año 2015 a los que se comprometieron los estados miembros de la Organización de las Naciones Unidas (ONU) consiste en mejorar la vida de como mínimo 100 millones de habitantes de barrios degradados. El reto es, pues, erradicar el barraquismo y convertir los barrios de asentamientos informales en zonas organizadas y dotadas de los servicios que cualquier persona necesita para vivir dignamente.Buenas prácticas
La Federación Nacional de Habitantes de Barrios Pobres de la India es una organización formada por personas sin hogar y habitantes de slums de más de 30 ciudades de la India, reconocida por haber llevado a término la reconstrucción de varios barrios pobres.

Sostenibilidad urbana
Es en las ciudades donde más desarrollo económico se produce. Pero sin el respeto al medio ambiente y a la identidad cultural de cada zona, este desarrollo no es sostenible, es decir, no resulta viable a largo plazo. Por eso la gestión municipal tiene que hacer compatibles el buen funcionamiento económico de la ciudad y la preservación de su patrimonio intangible y natural. Es necesario romper la dicotomía entre crecimiento y sostenibilidad.