À janela 29 de Abril

Les fenêtres

Les fenêtres nous guettent
Quand notre cœur s'arrête
En croisant Louisette
Pour qui brûlent nos chairs
Les fenêtres rigolent
Quand elles voient la frivole
Qui offre sa corolle
À un clerc de notaire
Les fenêtres sanglotent
Quand à l'aube falote
Un enterrement cahote
Jusqu'au vieux cimetière
Mais les fenêtres froncent
Leurs corniches de bronze
Quand elles voient les ronces
Envahir leur lumière

Les fenêtres murmurent
Quand tombent en chevelure
Les pluies de la froidure
Qui mouillent les adieux
Les fenêtres chantonnent
Quand se lève à l'automne
Le vent qui abandonne
Les rues aux amoureux
Les fenêtres se taisent
Quand l'hiver les apaise
Et que la neige épaisse
Vient leur fermer les yeux
Mais les fenêtres jacassent
Quand une femme passe
Qui habite l'impasse
Où passent les Messieurs

La fenêtre est un œuf
Quand elle est œil-de-bœuf
Qui attend comme un veuf
Au coin d'un escalier
La fenêtre bataille
Quand elle est soupirail
D'où le soldat mitraille
Avant de succomber
Les fenêtres musardent
Quand elles sont mansardes
Et abritent les hardes
D'un poète oublié
Mais les fenêtres gentilles
Se recouvrent de grilles
Si par malheur on crie
" Vive la liberté"

Les fenêtres surveillent
L'enfant qui s'émerveille
Dans un cercle de vieilles
A faire ses premiers pas
Les fenêtres sourient
Quand quinze ans trop jolis
Ou quinze ans trop grandis
S'offrent un premier repas
Les fenêtres menacent
Les fenêtres grimacent
Quand parfois j'ai l'audace
D'appeler an chat un chat
Les fenêtres me suivent
Me suivent et me poursuivent
Jusqu'à ce que peur s'ensuive
Tout au fond de mes draps

Les fenêtres souvent
Traitent impunément
De voyous des enfants
Qui cherchent qui aimer
Les fenêtres souvent
Soupçonnent ces manants
Qui dorment sur les bancs
Et parlent l'étranger
Les fenêtres souvent
Se ferment en riant
Se ferment en criant
Quand on y va chanter
Ah je n'ose pas penser
Qu'elles servent à voiler
Plus qu'à laisser entrer
La lumière de l'été

Non je préfère penser
Qu'une fenêtre fermée
Ça ne sert qu'à aider
Les amants à s'aimer

Jacques Brel (1964)

 
J. Malhoa
H. Matisse
E. Hopper
 
Pierre Bonnard
Até 6 de Maio 27 de Abril

Jorge Calado alia o conhecimento atento e informado da história da fotografia à docência e investigação de um ramo da ciência de que toda a engenharia é triburtária. A magnífica exposição que comissariou para a Gulbenkian é imperdível.

"Dominado o fogo, trabalhada a terra, utilizada a água e o ar, a engenharia podia emergir. Primeiro, regulada pelos números e pela imagem (geometria). São as Grandes Maravilhas. Depois, pela evolução das ciências - física, química, geologia, biologia, medicina... Engenharia é ciência aplicada. O cientista é mais livre que o engenheiro, mas o engenheiro é mais útil. A primeira engenharia a saír do sincretismo técnico foi a militar. Mais tarde, apareceu a engenharia não-militar ou civil. Seguiram-se as engenharias mineira, mecânica, química, eléctrica... E depois outra e outras, com nomes cada vez mais misturados e sexy" . JC

 
Sampaio 27 de Abril

N.P. no Público de hoje: "Para o ex-presidente da República, esta é a segunda nomeação para alto-representante da ONU. Depois da luta para acabar com a tuberculose, que ainda encabeça a nível mundial, é agora a vez da Aliança de Civilizações. Missão de Jorge Sampaio: promover valores que possam diminuir tensões entre sociedades e culturas e contribuir para a paz. Pode ser uma distinção, mas é também uma tarefa espinhosa".
Pode ser?

Aliança Civilizações
Notícia no El Pais
Guernica 26 de Abril
Gernikara, no País Basco, foi bombardeada há 70 anos.  
"Long link" blogues: bordaliana & C.ia 26 de Abril

Blogues que fazem a diferença pelo desprendimento com que tornam mais acessível informação relevante e partilham (bons) gostos. Blogues para ler devagar, apreciar detidamente como um "long drink".

Isabel Castanheira, livreira de profissão (Loja 107, Caldas da Rainha) e animadora cultural amadora (mas tão exigente e empenhada como se essa fosse a sua profissão), dirigente da associação Património Histórico - Grupo de Estudos tem um blog onde disponibiliza documentos da sua bilioteca particular. Além de livros, corta-papéis e selos, as suas paixões actuais são:
1. Rafael Bordalo Pinheiro (colecciona compulsivamente tudo o que se refere à sua obra, principalmente gráfica, e tem uma "bordaliana" inesgotável);
2. Gatos (em especial gatos livreiros, como o "Gil Vicente", já falecido, e a "Florbela Espanca" que dormem de dia e de noite velam livros).

Isabel Castanheira com rosa vermelha de S. Jorge

Cavacos das Caldas
"Foi bonita a festa, pá" 25 de Abril
Atenção à Joana (14 anos)
Lembrança grata e comovida de José de Sousa, no Museu do Hospital e das Caldas, organizada pela associação Património Histórico - Grupo de Estudos, com apoio da "Gazeta das Caldas". Reunião quase familiar, 11 anos após a sua morte. Mário Vieira de Carvalho fez questão de estar presente e lembrou o Centenário de Beethoven em 1970 promovido pelo José de Sousa no Conjunto Cénico Caldense, onde, jovem jornalista e crítico musical, fez a sua primeira conferência. O Presidente da Câmara anunciou que o município vai homenagear José de Sousa no próximo dia 15 de Maio. Homenagem a J. de Sousa
Testemunhos
Século Passado 22 de Abril

Há livros em que é fundamental começar pelos índices. Este tem índice ideográfico, uma espécie de manual de uso. Ao fim das primeiras duas dezenas de páginas (fascinantes), porém, decidi oferecer-me ao Jorge Silva Melo para fazer os índices onomásticos da segunda edição. Digam-me se não tenho razão.

 

Jorge Silva Melo, Século Passado. Lisboa, Edições Cotovia, 2007.

 
Noite de Sábado 21 de Abril

Coronel Pássaro do búlgaro Hristo Boytchev: uma excelente produção do Teatro da Rainha, um bom texto sobre um tema actual, uma encenação rigorosa, actores versáteis, cenografia segura. Não se pode perder. Desafio vencido do espaço de representação: o útimo piso da lavandaria do Hospital.
O teatro é uma condição sine qua non de uma cidade criativa. O regresso do Teatro da Rainha às Caldas e à região tem de continuar a ser acarinhado. A seguir virá a sede-oficina.

Teatro da Rainha
 
Manhã de sábado 21 de Abril
Como numa reunião de "soixante-huitards", cada um trouxe o que tinha, neste caso uma "animação". Objectivo: intervir na decisão sobre o futuro da pedonização da Rua Heróis da Grande Guerra, em favor da valorização do espaço público. Por uma manhã, a cidade foi dos cidadãos.  

 

 
A jornalista Natasha Narciso entrevista a fotógrafa Margarida Araújo para a Gazeta das Caldas.
Uma aula de pintura

Em cima: a Crapa expõe cães e gatos para adopção (na Rua Cândido dos Reis, como sempre acontece nas manhãs de Sábado).

À direita: a Loja 107 antecipou o Dia do Livro e ofereceu uma café aos autores caldenses à porta da Livraria.

A seguir: duas amazonas, antecipando o Dia de S. Jorge, depois de oferecerem rosas, animaram a manhã com exercícios e boa disposição.

 
"Long link" blogues: queirosiana 19 de Abril

Blogues que fazem a diferença pelo desprendimento com que tornam mais acessível informação relevante e partilham (bons) gostos. Blogues para ler devagar, apreciar detidamente como um "long drink".

No seu blog, Eduarda Maria regista o quotidiano e, por vezes, comenta decisões e atitudes e toma posições cidadãs. Hoje começou a disponibilizar na blogosfera a sua documentação sobre Eça de Queirós, formada sob o impulso da sua dupla paixão de leitora e coleccionadora.

Homenageando a coleccionadora, aqui fica uma caricatura de Eça feita por André Carrilho, acerca da qual escreveu João Paulo Cotrim: "Um rosto que se desfaz em corpo, blasé. Prende-o um fio, o do óculo. Notável equilíbrio entre o majestoso bigode e um olho modesto, entre a agudeza da observação e o espalhafato da elegância". Linha, Ponto e Vírgula: Caricaturas de André Carrilho. Org. de João Paulo Cotrim. Vila Nova de Famalicão, Câmara Municipal, 2006.

Terceira edição
Sob o manto...
 
À janela 15 de Abril
Poema 10

Hemos perdido aún este crepúsculo.
Nadie nos vio esta tarde con las manos unidas
mientras la noche azul caía sobre el mundo.
He visto desde mi ventana
la fiesta del poniente en los cerros lejanos.
A veces como una moneda
se encendía un pedazo de sol entre mis manos.
Yo te recordaba con el alma apretada
de esa tristeza que tú me conoces.
Entonces, dónde estabas?
Entre qué genes?
Diciendo qué palabras?
Por qué se me vendrá todo el amor de golpe
cuando me siento triste, y te siento lejana?
Cayó el libro que siempre se toma en el crepúsculo,
y como un perro herido rodó a mis pies mi capa.
Siempre, siempre te alejas en las tardes
hacia donde el crepúsculo corre borrando estatuas.

Pablo Neruda, Veinte poemas de amor y una canción desesperada

 
J. April
H. Matisse
 
Em África, contra a tuberculose 13 de Abril
O que move este homem? O mesmo de sempre: sentido das causas, entusiasmo, preocupação pelas pessoas, generosidade. Visão online
"Ratando" 12 de Abril

"Não imaginava que fosse assim, tão doloroso e , ao mesmo tempo, tão pouco digno como a velhice e a decadência"

 

António Lobo Antunes, "Cónica do Hospital", Visão

 
O automóvel 8 de Abril
Gonçalo Byrne quis devolver o Mosteiro ao seu Rossio e reconstituir um ambiente que permitisse desfrutá-lo. O espaço público foi requalificado com o alargamento do passeio fronteiro ao mosteiro e a organização de esplanadas. Mas entre estas e o terreiro saibroso, o automóvel criou uma descontinuidade visual e uma agressão tolerada sobre quem se acolhe à protecção dos chapéus de sol.  
"Lump" 6 de Abril

David Douglas Duncan, fotógrafo americano, à época a viver em Roma, pôs-se a caminho de Cannes na Primavera de 1957, para visitar o amigo Pablo Picasso, na sua "Villa la Californie". Fazia-se acompanhar por um dos seus cães, um "Basset" de 3 meses, a que dera o enigmático nome de "Lump" (em tradução livre "abaixo de cão"). Lump de imediato farejou e ocupou o território da "Villa" e dos seus ocupantes (Pablo, Jacqueline, sua companheira, Paloma e Claude, filhos de Pablo). Mas o pequeno "salsicha" não se limitou a conquistar espaço e afecto. Picasso pintou-o em cerâmica e em tela. Veja-se no canto inferior direito das suas Meninas (Picasso trabalhou sobre o quadro As Meninas de Velasquez durante o segundo semestre de 1957), como Lump substituiu o cão de guarda da Infanta Margarida.

David Douglas Duncan, Lump, The Dog Who Ate a Picasso, Londres, Thames & Hudson, 2006

 

David D. Duncan

Na Primavera do próximo ano, o Museu Picasso de Barcelona apresentará a exposição Picasso-Velasquez: Las Meninas. A tela de Velasquez é de 1656 e representa uma cena de família em torno da infanta Margarida, filha de Filipe IV
 
Picasso, Las Meninas, 1957
Velasques, Las Meninas, 1656
Oscar Niemeyer 4 de Abril
Avilez, cidade asturiana, presta homenagem a Niemeyer, que este ano completa um século (nasceu a 15 de Dezembro de 1907, no Rio de Janeiro), com uma exposição formada por uma centena de painéis de exterior, alusivos a outras tantas obras do arquitecto. Em Avilez iniciar-se-ão ainda este ano as obras de construção de um Centro Cultural destinado a evocar os laureados com Prémio Príncipe das Astúrias, patrocinado, desde 1981, pela Coroa espanhola (galardoados em 2006: Pedro Almodovar, Mary Robinson, National Geographic Society, Unicef, Fubdação Bill e Melinda Gates, selecção espanhola de basquetebol, Juan Ignacio Cirac e Paul Auster). Nimeyer foi o projectista convidado. Apresentação do projecto
 
Armazém das Artes abriu as portas 24 de Março

Parabéns José Aurélio.

Obrigado José Aurélio.

Armazém das Artes
Mulheres à beira mar 21 de Março

Confundindo os teus cabelos com os cabelos
do vento, têm o corpo feliz de ser tão teu e
tão denso em plena liberdade.

Lançam os braços pela praia fora e a brancura
dos seus pulsos penetra nas espumas.

passam aves de asas agudas e a curva dos seus
olhos prolonga o interminável rastro no céu branco.

Com a boca colada ao horizonte aspiram
longamente
a virgindade de um mundo que nasceu.

O extremo dos seus dedos toca o cimo de
delícia e vertigem onde o ar acaba e começa.

E os seus ombros cola-se uma alga, feliz
de tão verde

Sofia de Mello Breyner Andresen

DIA MUNDIAL DA POESIA 21 DE MARÇO DE 2007
LOJA 107 LIVRARIA,
Rua Heróis da Grande Guerra, 107, Caldas da Rainha

 
Fotografias de Ana Maria Bettencourt em exposição na Casa dos Açores, Rua dos Navegantes, 21, Lisboa
 
16 de Março 16 de Março
A história parece ter-se finalmente imposto ao combate politico na ponderação do significado do 16 de Março de 1974. Iniciativa do Conselho da Cidade-Associação para a Cidadania, os acontecimentos do 16 de Março foram objecto de depoimento e análise. Luis Nuno Rodrigues e Fernando Rosas, os historiadores. Pelos militares intervenientes, Armando Ramos, Carlos Carvalhão e muitos outros, entre eles Otelo Saraiva de Carvalho. Interessante documento, a narrativa sobre os seus dias de prisioneiro na Trafaria, aquele que Armando Ramos distribuíu no final da sessão. Das Caldas à prisão da Trafaria
Memória 9 de Março
9 de Março de 2006, 9h30  
Noites da Foz há 40 anos 2 de Março

O texto ao lado, exumado do fundo de um baú com mais de 4 décadas, pretendia ser um roteiro jornalístico da noite da Foz do Arelho. Foi elaborado na perspectiva de um adolescente de 16 anos que passava duas semanas das suas férias de Verão na Colónia de Férias Marechal Carmona (FNAT, hoje INATEL).

Os pontos de referência eram, além da própria Colónia de Férias, o Hotel Facho, o restaurante Félix, o Parque de Campismo, a aldeia da Foz com a sua praça e o café Caravela. Descontando as lacunas de informação imputáveis à idade e experiência do autor, cada um destes pontos de referência é sumariamente caracterizado: a pequena burguesia forasteira da FNAT (que a si própria se denomina de "colonos"); o cosmopolitismo dos frequentadores do Facho (franceses, ingleses, alemães); os grupos "aventureiros" de campistas; as caldeiradas do Félix à espera das quais os clientes se impacientam; os jovens locais que à noite dançam na praça ao som do acordeão e de dia se encontram no Caravela, os grupos de fadistas improvisados e contadores de anedotas que se formam à noite junto ao cais da lagoa, a figura de um "playboy". Por entre as descrições, nem sempre muito realistas, alguns apontamentos que identificam um ambiente e uma época: os cantores do momento (Simone de Oliveira, Rita Pavone, Marisol), os "azes" do ciclismo (Peixoto Alves, Mário Silva, João Roque), or jornais da tarde, a televisão (ou ausencia dela), as bateiras e a pesca ao candeio, o pick-up e o twist, o MG, o acordeão, a esquizofrenia de uma aldeia no Inverno/vila no Verão, os rapazes de cabelos compridos, blue jeans e sapatos de tacão de madeira, os jogos de sociedade e de salão (na Colónia, no Facho, no Caravela).

O leitor de hoje será, espero, tolerante com o estilo um pouco pretencioso, aqui e ali de gosto pouco apurado, deste juvenil escriba, candidato a jornalista. Leitor ávido de Baptista Bastos e Mário Ventura que no Diário Popular desse ano de 1965 publicaram uma série de reportagens sobre a noite algarvia, julgou-se com fôlego para fazer da Gazeta um émulo daquele vespertino. Da sua tentativa esforçada, o que chegou até nós terá somente o mérito de poder suscitar outras memórias, porventura mais coloridas.

E se, num plano literário, o adolescente desajeitado não constitui exemplo, este texto parece ainda hoje despertar uma sâ nostalgia de um tempo em que na Gazeta das Caldas "impunemente" se afirmava: "Diabos, não há quem não seja poeta nas noites da Foz do Arelho".

Uma noite na Foz do Arelho
 
Património e Estremadura 25 de Fevereiro
Lançamento, na Biblioteca Municipal de Leiria, do primeiro volume de uma colecção de obras editadas pelo Centro do Património da Estremadura, sobre temas de história e património da região. Mas de que região estamos a falar (eterna pergunta de resposta sempre variável, sempre provisória)? Para Saul António Gomes, historiador de fôlego e reconhecido talento, director da colecção, trata-se da região de Leiria, coincidente com o distrito acrescido do concelho de Ourém (incluindo pois Fátima). O esforço de legitimação do distrito com entidade produtora de sentido procura agora na história recursos que noutros campos já perdeu (ou verdadeiramente nunca logrou). A história pode pouco para dar corpo a este mito contemporâneo. Mas talvez a auto-estrada crie a oportunidade que a política desperdiçou. De facto hoje Leiria fica a 30 rápidos e seguros minutos das Caldas e se os leirienses se interessassem pela conclusão das obras de ligação da A8 à A1 e à sua cidade ... Cepae
 
José Nuno da Câmara Pereira 16 de Fevreiro

José Nuno da Câmara Pereira nasceu em Santa Maria, nos Açores, em 1937. Licenciou-se em Pintura pela ESBAL, em 1966, iniciando em seguida uma carreira como professor (1966), em paralelo com a actividade artística. Apresentou obras em exposições colectivas e individuais, mas foi a partir de 1977 que o seu trabalho ganhou reconhecimento e projecção. Nesse ano, o Museu carlos Machado, de Ponta Delgada recebeu a sua exposição de pintura "Paisagens de Mito e Memória", a que se seguiu, dois anos mais tarde, a exposição "Imaginação da Matéria" efectuada, com apoio da Fundação Gulbenkian, na Central Tejo. Estavam encontrados, como notou José-Augusto França, orientações axiais do percurso deste artista singular. Em 1983, na Sociedade Nacional de Belas Artes, apresentou "Transfiguras: Exposição Histórica Trágico-Marítima" e no ano seguinte, em Santa Clara a Velha, em Coimbra, a instalação "Recado para Inês". A galeria Quadrum levou trabalhos seus à Feira Internacional de Arte Contemporânea, em 1979 (Paris, Grand Palais), e de 1984 a 1987 participou em diversas exposições colectivas ("1984 o Futuro é já hoje", Centro de Arte Moderna, "1ª Bienal dos Açores e do Atlântico", "III Exposição de Artes Plásticas", da Fundação Calouste Gulbenkian, "V Bienal de Campomaior", "Arte Contemporânea Açoreana", "2ª Bienal dos Açores e Atlântico", Angra do Heroísmo). Em 1986, é distinguido pela Associação Internacional dos Críticos de Arte com o prémio AICA - Philae.

Em 1987, com apoio das Fundações Gulbenkian e Luso-Americana, partiu para os Estados Unidos. Frequentou o Center for Advanced Visual Studies do M.I.T. (Massachusetts Institute of Tecnology), com o objectivo de aprofundar o nexo entre criação artística e novas tecnologias, explorando vias abertas na exposição "Imaginação da Matéria". Em 1988, uma exposição realizada na Alemanha, com obras efectuadas pelos artistas visitantes do MIT, teve o seu contributo.

No regresso dos Estado Unidos aplica-se na concepção e organização de um Centro de Arte e Investigação, organismo que reunia artistas e instituições nacionais com a finalidade de promover a investigação aplicada à criação artística, em novos domínios da ciência e da técnica. A eclosão da Guerra do Golfo, no Verão de 1990, comprometeu porém o apoio mecenático a este projecto, inviabilizando-o.

Em 1994, José Nuno da Câmara Pereira ruma de novo às suas ilhas, fixando-se em Angra, na Terceira. Desenvolve a partir de então, uma série de projectos de intervenção pública, hoje já em número significativo. Realizou peças de escultura e azulejo para obras asssinadas pelo arquitecto José Lamas (Escola Secundária da Lagoa, Biblioteca e Arquivo de Ponta Delgada, Teatro Faialense), painéis azulejares para o Jardim dos Cortes-Reais em Angra do Heroísmo, composições escultóricas "Celebração da Chuva" numa rotunda de Ponta Delgada e "Jardim de Pedra" na Ilha do Pico. Toma igualmente a seu cargo diversas obras de restauro em património edificado da região. Paralelamente, prossegue no seu atelier a pesquisa estética e técnica que tinha caracterizado a sua produção dos anos 80, agora no enquadramento específico de uma cultura de rica e diversa tradição como a dos Açores. Expõe nos Estados Unidos ( Newbedford Art Museum, 2000), no Forum Picoas ("Em Baixo, rente ao Chão", 2000, a convite da AICA), na Feira Internacional de Arte do Funchal, em 2001, no Centro Cultural e de Congressos de Angra, em 2003.

Em Abril de 2006 traz à Galeria Prates, em Lisboa, uma exposição, apresentada pelo crítico José Luís Porfírio, sob a designação "Ultraperiferia", onde patenteia a sua capacidade não adormecida de experimentar novos materiais e novas abordagens ao "caos sensível".

José Luis Porfírio

Quando nos finais de setenta e princípios de oitenta por toda a parte se regressava á pintura, José Nuno efectuava um movimento rigorosamente inverso, i.e., regressava da pintura no que era uma memória de uma matéria anterior, plástica, moldável, fluida, de universo jovem que se auto-construía tal como a sua pintura (ainda) se pintava a si mesma.

Agora, neste início do terceiro milénio, José Nuno viaja pelos mais diferentes materiais, aglutina, rejeita e experimenta, numa memória permanente dos quatro elementos e da sua interacção momentaneamente registada, fixada numa aparência de quadro de cavalete, num percurso recente onde mutação dos materiais é, afinal, o registo da sua transitoriedade.

José Nuno é, desde sempre, um artista difícil de agarrar, ou de definir se preferirem, os seus trabalhos em torno da instabilidade da matéria, onde a pintura continuamente nascia e morria, na sua impermanência radical, buscavam, e encontravam, uma raiz, um nascimento contínuo para uma pintura diferentemente outra no espectáculo, ao mesmo tempo real e imaginário, do seu fazer-se e desfazer-se a si mesma.

Agora a sua peregrinação por materiais mais estáveis, por óleos e pastas solidificadas ou pela forma informe das peles das vacas, a sua necessidade de levantar uma pintura como se fosse uma parede, na sua mais que evidente tridimensionalidade, não consegue esconder, para alem da estabilidade e da permanência relativas dos materiais que continuamente vai experimentando, esse continuo tumulto da criação no movimento suspenso de cada objecto que vai inventando.

In Ultraperiferia, catálogo da Exposição de José Nuno da Câmara Pereira realizada na Galeria António Prates em Lisboa, de 27 de Abril a 25 de Maio

José-Augusto França

(...) as criações de José Nuno da Câmara Pereira, pintor de formação, com estudos completados no MIT nos EUA, que se dedicou à exploração da "Imaginação da Matéria" já em 1979, com um vasto conjunto de peças encenado na Central Tejo, Lisboa, espectáculo insólito que levou a dinâmica dos elementos postos em cena a últimas e ameaçadoras consequências. O que também fez na sua proposta polémica da História Trágico-Marítima (SNBA, 1983) em "transfigurações" computorizadas, ou no Ano Orwell (Picoas, 1984), e em trabalhos consecutivos, com técnicas de ponta para obtenção de "imagens furtivas" (1988-1991). Nessas propostas, Câmara Pereira assumiu uma situação inédita em Portugal, com experiências estéticas de fôlego internacional.

In História da Arte em Portugal. O Modernismo (Século XX). Lisboa, Presença, 2004, p. 178.

Um criador nas suas ilhas

Em finais de 206, o Instituto Açoriano de Cultura edita um DVD sobre a obra do artista: "José Nuno: um Criador das sua Ilhas". O DVD compõe-se de uma exposição virtual, um documentário sobre a vida e obra do artista e uma entrevista.

A exposição virtual é comissariada por José Luís Porfírio, crítico de arte. Esta exposição permite uma viagem virtual ao universo da obra do pintor, onde é apresentada uma selecção das suas criações, desde o início da sua actividade nos finais dos anos 60 até à actualidade.

Por sua vez, o documentário sobre a vida e obra de José Nuno da Câmara Pereira é da responsabilidade de Marcus Robbin, realizador alemão, nascido em Berlim, e actualmente residente na ilha do Pico. O documentário, cujas filmagens decorreram em várias das ilhas dos Açores e no continente, oferece-nos uma viagem ao universo vivencial de José Nuno da Câmara Pereira conduzido pelo próprio artista.

Os Açores na obra de José Nuno da Câmara Pereira

Nos dias 15 e 16, percorri com o artista algumas das suas intervenções em Angra do Heroísmo. Também visitei o seu atelier. As fotografias documentam essa visita.

A paisagem natural açoreana marcada por eventos geológicos fortemente impressivos atravessa o processo criativo de José Nuno. A preocupação com as texturas das superfícies, a estratificação e transição dos materiais pictóricos remete para uma natureza convulsiva cuja organização na sua beleza primitiva é afinal sempre precária. Na sua paleta, as cores das rochas que o vulcão vomitou e o homem integrou na contrução urbana constituem referência permanente: os basaltos, os traquitos, os ignimbritos, a pedra pomes, as escórias. As cicatrizes morfológicas que cada uma das ilhas exibe são ponto de fixação e de reflexão dos seus quadros. A actividade geotérmica que se manifesta em campos fumarólicos, em bocas de explosão claramente observáveis, originou citações em muitos dos seus trabalhos. A natureza viva, vegetal e animal, tal como o homem a produziu invade a sua azulejaria e, mais recentemente, as suas propostas surpreendentes de trabalho com pele de vaca. A obra de José Nuno é um tributo a essa memória fantastica de uma natureza em mutação que os homens teimam em querer dominar.

 
José Nuno da Câmara Pereira: tanque de reflexão
Intervenções em curso na Pousada de Angra
Baía de Angra. Jardim dos Cortes-Reais
Ilhas desconhecidas 12 de Fevereiro

"30 de Julho [de 1924]

(...) Meia hora depois entro em Ponta Delgada e no seu porto artificial. É uma cidade irregular e alegre, estendida á beira-mar, com as colinas verdes ao fundo: na rua passa de quando em quando um fantasma disforme de capote de muita roda. Nesta paisagem verde e calma, com um céu de mata-borrão por cima, prende-me os olhos aquele monte violeta com a Lagoa na base...

Ruas asseadas, um largo, uma linda igreja e jardins maravilhosos - o de Jácome Correia, ordednado e prático, com grandes árvores de sonho e lá no fundo, ao pé do palácio, sebes de tomates e renques de batatas sulfatadas; o de António Borges, com um vale de plantas rendilhadas, one a gente mergulha em luz verde e atenuada, numa luz de podridão, por entre aquela família de fetos que brotam dum tapete orvalhado de musgo. Cheira a terra e a húmido. E a imobilidade em que se desenvolvem estes seres admiráveis e delicados, de folhas em pluma, altos ou minúsculos, miniaturas perfeitas e não excedendo o tamanho de líquenes, faz-me baixar o tom de voz. Melhor: a luz verde e o silêncio glauco onde só penetra um raio de sol que vem de cima e escorre como um fio de aranha a reluzir iluminando um ponto do chão, obrigam-me a suspender os passos para não interromper um concilíabulo que suponho extraordinário. Demoro-me mais no de José do Canto, dum verde cerrado e magnético. Árvores que infundem respeito, com furnas e cavernas nos troncos, árvores cenográficas, cheias de força e amplidão ou transparentes e frágeis como vidro - pedaço dos trópicos transportado por mágica para Ponta Delgada, e que eu, se tivesse tempo, me deitaria a explorar, a modo de floresta virgem. Conservo dos jardins da cidade a impressão dum calor abafado, mornaço, duma sombra fechada, dum silencio religioso e dum passarinho a cantar.. Esta solidão com árvores abandonadas (eu ando sempre na ponta dos pés dentro dos grandes jardins, porque comunica logo comigo uma alma estranha ali encantada e presente) fixou-se-me para o resto da vida. As casas são sempre as mesmas casas, os homens os mesmos homens de toda a parte. Os jardins não. Nem os jardins nem o convento da Esperança, de que também não esqueço mais a torre enorme e maçiça, construída para a eternidade, e as janelas tão gradeadas que metem medo. Mais forte, mais pesado que uma prisão, oprime o peito e tira o ar. Esta impressão talvez a sentisse Antero, porque foi aqui num banco encostado á muralha, que, depois de olhar para todos os lados sem poder fugir, se libertou da vida."

Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas. Notas e Paisagens. Lisboa, 2001 [1ª edição 1926]. p. 137-138.

 
Picasso em Torres Vedras 8 de Fevereiro

Entre 27 de Agosto de 1966 e 15 de Janeiro de 1967, Picasso realiza várias dezenas de gravuras e desenhos. Tinha 84 anos e acabava de sofrer uma operação delicada, em consquência do que fora submetido quimiotereapia.

A Fundação Bancaja adquiriu este acervo precioso no qual o pintor se assume com um contemplador activo da sua própria existência.

A Câmara de Torres Vedras expõe-na até Março de 2007.

 
Mário Dionísio 3 de Fevereiro

No fundo de uma prateleira da livraria "Moreira da Costa", no Porto, descubro o catálogo de uma das poucas exposições individuais de Mário Dionísio, um dos mais interessantes intelectuais da segunda metade do século XX. Professor em primeiro lugar, por gosto e por vocação, escritor, ensaista e pintor, em tudo o que produziu - pela palavra, pela escrita ou pelo desenho e cor - deixou um traço vincado de exigência e rigor.

Dados biograficos:

Nasceu em Lisboa, em 1916, filho de um comerciante e oficial miliciano que participou na Grande Guerra e veio a falecer em Moçambique em 1926. O jovem Mário Dionísio, então aluno do Liceu Camões, passa a viver em casa dos avós paternos. Mas a morte do avô e da mãe, em 1930, obrigam-no a trocar Lisboa por Évora, Aqui, residindo em casa de tios, conclui o Liceu. Em 1934 inicia a frequência da Faculdade de Letras de Lisboa, graças ao rendimento de um pequeno legado e de lições particulares e aulas num colégio. Integra-se no meio intelectual de oposição a Salazar e ao Estado Novo. Publica os primeiros livros de poesia e ensaio e colabora em diversos periódicos (Gleba, Liberdade, Sol Nascente, Diabo, Seara Nova). Em 1939 conclui o Curso de Filologia Românica e é admitido a estágio no Liceu Pedro Nunes, mas uma doença grave (tuberculose pulmonar) força-o a interromper a formação. Tinha entretanto casado com a sua colega de curso Maria Letícia, professora de Liceu. Começa a pintar e continua a publicar textos literários e ensaísticos. Em 1944 lecciona no Colégio Moderno e no ano seguinte adere ao Partido Comunista Português, tendo a seu cargo a ligação com a Comissão de Escritores e Artistas do Movimento de Unidade Democrática (MUD). No ano seguinte, nasce a sua única filha, Eduarda Dionísio, e sua mulher é demitida do ensino oficial por motivos políticos. Mário Dionísio colabora na revista Vértice, e em outros periódicos, com textos de crítica literária e artística, continua a publicar livros e participa em exposições de artes plásticas. Desloca-se a Paris para fazer entrevistas com grandes pintores da época, como Portinari, Lurçat, Léger, etc. Em 1952 afasta-se do PCP e em 1954 polemiza nas páginas da Vértice com Álvaro Cunhal e António José Saraiva sobre o neo-realismo. Inicia, entretanto, a redacção e publicação da obra monumental A Paleta e o Mundo (1º volume, 1956). Em 1957 é admitido de novo a estágio no Liceu Pedro Nunes, efectivando-se no Liceu Camões em 1958. Prossegue intensa colaboração literária e ensaística em jornais e revistas, além da realização de traduções e a edição de livros (em 1966, a editora Europa América dá início á publicação das Obras Completas de Mário Dionísio). Recomeça também a pintar (1963), depois de alguns anos de paragem, agora num registo abstracto. Após revolução de 1974, aceita missões na Educação, como a de presidir à Comissão de Estudo da Reforma Educativa e á Comissão Coordenadora dos Textos de Apoio (ensino secundário). Convidado por duas vezes para a pasta da Educação, em 1975, recusa, mas aceita em finais de 1976 o cargo (que desempenharia por poucos meses) de Director de Programas da RTP. Em 1978 é convidado para leccionar na Faculdade de Letras de Lisboa a cadeira deTécnicas de Expressão do Português, função que desempenhará até à sua aposentação, em 1987. De 1989 a 1993, ano que morreu, organiza diversas exposições individuais de pintura em Lisboa e no Porto. Em 1991, a celebração dos seus "50 anos de vida literária e artística" mobilizou a reflexão em torno de uma obra artística e literária de um dos criadores mais ricos e actuais do século XX.

Bibliografia

Oiro! Caricatura duma Civilização, 1934; Via Luminosa e Outros Poemas, 1934; Poemas, 1941; Ficha 14, 1944; O Dia Cinzento, 1944; As Solicitações e Emboscadas: Poemas, 1945; Van Gogh: Estudo, 1946; O Riso Disonante, 1950; Encontros em Paris, 1951; O Drama de Vincent Van Gogh, 1954; A Paleta e o Mundo: uma Introdução à Pintura de Hoje, 1956; Conflito e Unidade da Arte Contemporânea, 1958; Portinari: 1903-1962, 1966; Memória dum Pintor Desconhecido, 1965; Poesia Incompleta, 1966; O Dia Cincento e Outroa Contos, 1967; Le Feu qui Dort, 1967; Não Há Morte nem Princípio, 1969; Terceira Idade, 1982; Monólogo a Duas Vozes: Histórias, 1985; Autobiografia, 1987; A Morte é para os Outros, 1988; Pomar, 1990.

Fonte

"Não Há Morte nem Princípio". A Propósito da Vida e Obra de Mário Dionísio, Lisboa, Câmara Municipal/Biblioteca-Museu República e Resistência, 1996.

 

 
Cais de embarque, 1981
Nasce uma flor de pranto, 1989
Eduarda com 6 anos, 1952
Camponês armado, 1977
Já muito para lá, 1988
Referendo 23 de Janeiro

"Sou a favor da despenalização do aborto, nas condições e limites propostos no referendo, ou seja, desde que realizado por decisão da mulher, em estabelecimento de saúde, nas primeiras dez semanas de gravidez."

Vital Moreira, "Doze razões", O Público, 23 de Janeiro de 2007

Doze razões
Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha 15 de Janeiro

10 tópicos para a identificação de uma cultura plural e transversal da ESAD

1 - Valorizaçao da oficina e do trabalho oficinal na formação (o aluno da ESAD sabe como se faz), o que implica atribuir alta prioridade à manutenção, actualização e modernização dos equipamentos oficinais.

2 - Valorização do conhecimento científico e de uma atitude favorável à inovação, quer de processos quer de tecnologias.

3 - Valorização do percurso escolar, o que significa:

          - estimular a autonomia e a iniciativa individual do aluno;

          - promover o sucesso escolar, prevenindo e combatendo o abandono e o absentismo.

4 - Valorização da componente profissional ao longo de todo o percurso escolar, o que significa:

          - favorecer o conhecimento mútuo do mundo socio-económico e da escola;

          - proporcionar acesso às representações profissionais nas diversas etapas dos cursos.

5 - Valorização do conhecimento, intercâmbio e mobilidade europeia e internacional.

6 - Valorização das ligações territoriais, através de parcerias e da participação em projectos comuns a várias instituições e empresas que operam na região.

7 - Valoriação da deontologia e promoção de uma cultura de responsabilidade, de inclusão e de cidadania.

8 - Valorização do estudo e intervenção no espaço público como eixo do corpo comum de conhecimentos e competências da escola:

          - espaço público enquanto espaço de representação físico (as ruas, praças, esquinas que estruturam a cidade);

          - espaço de representação simbólico (o espaço de criação, afirmação e desenvolvimento cultural);

          - espaço de representação social (zona de partilha onde se faz, desfaz e refaz a coesão social).

9 - Valorização da comunicação e do diálogo quer para o interior quer para o exterior da instituição.

10 - Valorização das formações que atraiam e interessem novos públicos e promovam a ligação permanente da ESAD aos seus antigos alunos.

 
Pancho Guedes e as meninas de Sommerschield 8 de Janeiro

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Aos 24 anos já conhecera diversas paragens africanas quando se instalou na capital de Moçambique, a meio do século XX. Trazia um diploma de arquitectura tirado em Joanesburgo. Encontrou na Câmara as primeiras encomendas, antes de montar atelier na Rua de Nevala (hoje Kuame Nkrumah). Chamava-se Amancio d'Alpoim Miranda Guedes, mas toda a gente o conhecia por Pancho. Durante um quarto de século desenhou, modelou e pintou a cidade de Lourenço Marques. Pancho tinha uma alma latina, talvez até, como o nome de guerra sugere, espanhola. Quis tocar o coração de África que lhe pareceu inocente, supersticioso, alegre e colorido, mágico. Como o das crianças. Nenhum arquitecto incorporou esse universo plástico e alacre na cidade como ele. Podemos vê-lo tanto na Casa de Bonecas que construíu para a sua filha Catarina, em 1967, como recente Casal dos Olhos de 1990 (este na cosmopolita Sintra), tanto nesse inigualável Leão que ri (o nome diz tudo) de 1958, como na Casa Avião de 1951. As esquinas da revolução de 74, privilegiando, como sempre acontece, o desencontro, perderam Pancho e talvez o tenham tentado apagar da memória da cidade agora renomeada Maputo. Mas as meninas de Sommershild talvez ainda se lembrem onde brincaram enquanto cresciam na sua cidade imaginária.

Sobre a obra do arquitecto Pancho Guedes, vide neste mesmo sitio "Estudos Urbanos" .
Jardim Infantil Pirâmides, Sommerschild, Lourenço Marques (Maputo)